Circuito Chic
Christiano Coelho
Colunista social desde 2002, Christiano Coelho se consolidou ainda no Jornal Impresso, sendo pioneiro em Primavera do Leste na edição de revista, programa de TV e site voltado ao universo social. Siga-o também no Instagram: @christianocoelho e @circuitochic
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COLUNA DO CHRIS / Sábado, 05 de Janeiro de 2013

Talento genuinamente mato-grossense, o jovem  Wanderson Lana hoje é conhecido em coxias de teatros pelo Brasil afora. Filho de mineiros, nascido em Poxoréu, veio para Primavera do Leste na adolescência, quando também conheceu a arte do teatro. Orgulhoso de suas origens e trabalho como todo escorpiano, é historiador por formação e está se especializando em História da América Latina, além de, em breve, concluir o Mestrado em Cultura pela UFMT. Fazendo sucesso com as peças de sua Cia. de Teatro Faces, recentemente teve um roteiro seu transformado em curta-metragem, estrelado pela atriz Gabriela Alves. Ciente do lugar que conquistou na cultural local, ele conversa com a Coluna sobre o trabalho e fala das expectativas quanto à nova administração municipal... 

"Eu fui criado em escolas onde recitar uma poesia era um privilégio e não um castigo"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

Quando você despertou para as artes,
em especial o teatro?

Eu sempre gostei de histórias. Gostava de criar histórias, de brincadeiras que podíamos criar, como polícia e ladrão, até mesmo contar causos para amedrontar os primos. Posso dizer que tive uma infância concebida para um escritor, no bom e num sentido mais pesado. Quando cursava a sexta série, o teatro amador surgiu em minha vida. A professora de Português Ana Rosa, pediu para lermos um livro e depois criar uma peça de teatro dali. Era tudo muito legal. Eu fui criado em escolas onde recitar uma poesia era um privilégio e não um castigo. Ainda sou do tempo em que respeitar o mais velho e ser educado era um princípio básico; que decepcionar um professor era humilhante,
não para os outros, mas para nós mesmos.

Como aconteceu a profissionalização do trabalho e você passou a se dedicar exclusivamente ao teatro?
Quando fui contratado para me apresentar no SESC Arsenal em Cuiabá. Foi incrível a sensação de respeito e carinho que senti. Os convites para ministrar oficina em outros municípios e daí surgiram as pessoas que começaram assistir com frequência, passando a nos olhar com muito respeito. Eu já sou concursado pelo município, mas em outro setor. Lembro que uma equipe lutou pelo minha transferência para a Cultura: José Gilberto Chicão, Carla Witt que foram as pessoas mais importantes nesse processo de transferência. Depois vieram outros secretários como o Toninho Nogueira, a Edna Machnic e todos os outros da Educação Municipal, que sempre colaboraram muito. Decidi me dedicar exclusivamente ao teatro porque entendi que fazíamos de uma maneira que os outros queriam ver, saber e compreender. Então, até para fazer outro trabalho não existia mais tempo. Eram sete dias da semana de trabalho. Hoje sou uma pessoas que odeia feriado, acredita? Para mim, trabalhar domingo é normal.

"Decidi me dedicar exclusivamente ao teatro porque entendi que fazíamos de uma maneira que os outros queriam ver"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

Vivendo em um local distante dos grandes centros,
onde esta arte é mais valorizada, quais as
dificuldades do grupo hoje?

Nossa dificuldade é pelo espaço de apresentação e pelo comportamento iluminista que parte de algumas pessoas ainda. O Sudeste não só produz bons produtos, produz coisas terríveis também, como qualquer lugar. Nos diminuímos muito diante do outro. Ainda sofremos por conta da profissionalização, temos dez atores profissionais, com serviços prestados, mas é muito difícil fazê-los trabalhar durante todo ano com uma renda mensal fixa. Primavera do Leste hoje é modelo nacional, os atores estão com as carteiras assinadas, sendo respeitados. Mas é uma luta todos os dias. Não era mais para ser assim. Apesar de ter um poder público que apoia, não é suficiente. Precisamos também de grandes mecenas, até porque Primavera do Leste tem tudo para ser também um pólo cultural nacional.

O que mais lhe atrai, escrever, atuar ou dirigir, e qual o grau de dificuldade em cada função?
Sem dúvida, escrever! Quero ainda escrever séries para televisão e muitos roteiros para cinema. Mas claro, sem me perder do teatro. Dirigir para mim é um prazer imensurável, gosto muito de fotografia, desenho de cena, partituras... E não fujo de elencos grandes, na verdade, são o meu deleite. Atuar eu gosto muito, mas é minha terceira paixão. Esse ano voltarei para os palcos como ator. Espero não estar enferrujado, já que fiquei dois anos apenas dirigindo. Outro dia me perguntaram se isso seria modéstia. Mas não acredito em pessoas seguras demais. A insegurança leva ao treino e o treino leva à qualidade. Não é modéstia é a insegurança que sempre fica me dizendo: “pode ficar melhor.”

"Não acredito em pessoas seguras demais. A insegurança leva ao treino e o treino leva à qualidade"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

A Cia Teatro Faces tornou-se referência no teatro de Mato Grosso, com projeção em todo o Brasil. A que você atribui tão rápida ascensão, lembrando um pouco da trajetória do grupo?
Atribuo ao respeito com o público e com o nosso próprio trabalho. Nunca colocamos algo em cartaz que não tivesse um selo de qualidade. O público poderia desgostar, o que é comum, mas sempre veriam um trabalho de pesquisa, um trabalho apurado de atuação em cena. Sempre busquei aproveitar as oportunidades que me eram dadas, mas principalmente, estudar. Tem pessoas que acham que o talento é tudo, mas não é bem assim. Quem não estuda fica para trás, também no teatro.

A companhia se consagrou com a linguagem lúdica, mais voltada para o público infanto-juvenil. No entanto vocês tiveram grande repercussão com o espetáculo “Cabaré”, um drama adulto. Qual a linha de trabalho do Faces, e o que podemos esperar a partir daí?
Nossa linha de trabalho é não ter linha de trabalho. Somos conhecidos pela linguagem do drama para infância e juventude, mas realizamos muitos trabalhos adultos. Para esse ano, temos um espetáculo que pretendemos circular até fora do país, para o público adulto. A volta de Cabaré com uma nova pegada e algumas mudanças de elenco, também para o público adulto. E para o público infantil e jovem temos duas boas surpresas, que ainda preciso manter surpresas.

"Para esse ano, temos um espetáculo que pretendemos circular até fora do país, para o público adulto, a volta de Cabaré com uma nova pegada e algumas mudanças"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

Como você vê o teatro hoje em Mato Grosso?
Vejo um teatro cansado das políticas públicas de apoio. Vejo um teatro que se culpa muito pelo pouco público em alguns eventos. Vejo um teatro de muita qualidade que o público está perdendo de ver, por conta de produções repetitivas e muitas vezes copiadas de produtos estrangeiros.

Seu livro “O Homem do Coração Azul” foi bastante elogiado pelas histórias e riqueza no texto. Em alguns contos o que há de biográfico? Fale um pouco desta obra.
Posso dizer que eu me magoei muito nessa trajetória toda. Quando comecei a escrever teatro, as pessoas disseram que era melhor eu parar. Tive problemas amorosos complicados... Coisas que todo mundo tem, mas para quem escreve, isso toca um lado mais profundo, que parece nunca passar. Contudo, eu sempre tive em mente que nunca ia me posicionar como uma vítima do mundo. E comecei a criar histórias. Umas procuram ajudar, outras apenas dizer ao peito. E deste sentimento surgiu o livro.

"Sempre tive em mente que nunca ia me posicionar como uma vítima do mundo. E comecei a criar histórias"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

Apesar de focar no teatro, você teve um roteiro de sua autoria transformado em curta-metragem que está no circuito nacional do segmento. Como foi ou está sendo esta experiência no cinema?
Inacreditável! Eu fui fazer um curso na escola do Wolf Maia em São Paulo e na turma tinha 19 roteiristas e eu, um iniciante no cinema. Escrevi o roteiro em dois dias. Isso foge completamente do meu estilo de escrever, pois demoro sempre meses para ter um produto pronto. Acabou que se interessaram pelo meu roteiro e logo o professor Daniel Torrieri Baldi que é também produtor, começou a contratar uma equipe enorme. Nomes de peso como a atriz Gabriela Alves no elenco, chegou a me mandar mensagem no facebook dizendo que gostou muito da história. Até agora pouca gente sabe, porque sou meio reservado em coisas pessoais. Mas o filme foi selecionado em 4 festivais nacionais e premiado em um deles. Eu amo cinema, era meu sonho antes de conhecer o teatro. E hoje assistindo a um filme que eu assino o roteiro, penso: “Nossa, que bom! Acho que estou ainda no caminho.”

Existe certa especulação no campo da política, já que você sempre foi apoiado pelo prefeito Getúlio Viana. Como fica seu trabalho com a mudança da Administração Municipal?
Além das pessoas da Secretaria de Educação e Coordenadoria de Cultura que citei antes, tenho que agradecer principalmente o carinho e o respeito que o Getúlio Viana teve comigo enquanto prefeito. Eu quase nunca ia à Prefeitura e mesmo assim, ele sempre se fazia muito próximo. Estou tranquilo do meu posicionamento. Fiquei mais chateado no começo por reduzirem nosso trabalho Á política, já que o mínimo que poderia fazer era retribuir o apoio na época da campanha. Falei com muitas pessoas do grupo que venceu a eleição e todas foram muito educadas comigo, dizendo que sabem da qualidade do nosso trabalho. Sem contar que o Teatro Faces é uma realidade no cenário Estadual e Nacional. Espero que o convênio continue firmado, que nosso festival continue crescendo e que a Prefeitura mantenha ou até aumente seu apoio. Fazemos um trabalho sério com crianças, jovens e professores e a nossa Cia sempre se orgulhou em levar o nome de Primavera do Leste pelo Brasil. Como sou muito grato ao Sr. Getúlio, espero daqui 4 anos ser grato também ao prefeito Érico Piana, que acredito ter uma boa visão cultural, pelo que lembro de suas outras gestões.

"Como sou muito grato ao Getúlio, espero daqui 4 anos ser grato também ao prefeito Érico Piana"

Circuito Chic, Wanderson Lana, Teatro Faces

Seu talento é reconhecido em todo Brasil por gente que entende do assunto. No entanto você sempre fez questão de fazer arte por aqui. Esta ideia continua ou em breve poderemos perder Wanderson para os grandes circuitos?
Não gostaria de sair de Primavera do Leste enquanto aqui não fosse um pólo cultural nacional de Artes Cênicas. Acredito e quero participar desta transformação. É para isso que trabalho todos os dias. Esse ano, se tudo der certo, me tornarei mestre em Estudos de Cultura pela UFMT. Estou por aqui, pois acredito que da mesma forma que surgiu um Teatro Galpão, Vertigem até mesmo um Asdrúbal Trouxe o Trombone, pode existir em Primavera do Leste, com muito trabalho e dedicação, uma Cia que orgulhe o nosso país. Não quero fama, quero respeito profissional e aumentar a qualidade do trabalho. Se a fama um dia acontecer, espero que seja por eu ter orgulhado minha família, amigos, cidade e país.

Cartaz de divulgação e foto da atriz Gabriela Alves em cena do curta-metragem
"Selo", com roteiro assinado por Wanderson Lana

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Imagem da peça "Cabaré" que volta com nova montagem destinada  ao público adulto, com drama e música

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